A Salvação pela Graça

Graça é uma atitude benevolente e incondicional em prol de outro e é também a manifestação da essência de Deus assim como Ele é. Quando Ele libera graça, não está ofertando algo que é seu, mas, sim, auto-ofertando-se, pois amor incondicional é o que o constitui em sua essência.

A graça de Deus é estendida a todas as dimensões da vida e não somente na salvação. É o que alguns teólogos chamam de graça comum. Ela é vista no domínio físico quando diz que Deus faz nascer o seu sol sobre maus e bons e vir chuvas sobre justos e injustos (ver Mt 5.44-45) e nas belezas da criação com suas múltiplas cores, nuances, beleza e mistério; é também vista na capacidade intelectual de desenvolver o conhecimento, a ciência, a tecnologia, as artes e em tudo que a humanidade cria; na capacidade moral e na demonstração de bondade, mesmo em pessoas más; na capacidade que a sociedade tem de, apesar de muita maldade, conseguir organizar-se e viver em harmonia; na organização das religiões, que, mesmo sendo pagãs, revelam traços do mistério divino e da transcendência de Deus; e ainda na capacidade da gratuidade humana em ajudar e cuidar do próximo. Mas há também a graça preveniente, que é aquela que opera para a salvação, onde o Espírito Santo convence, chama e ilumina o indivíduo a crer, o que precede a conversão e possibilita o arrependimento e a fé.

A Palavra de Deus é composta pelo Antigo e Novo Testamentos, cujos conteúdos são compostos pela Lei e pelo evangelho, sendo que o Antigo Testamento não contém somente a Lei e vice-versa. O conteúdo da Lei e do Evangelho perpassa todo o conteúdo bíblico; há, no entanto, uma maior ênfase de conteúdos em cada um dos Testamentos respectivamente.
A Lei serve como um condutor para o encontro com Cristo e sua graça (Gl 3.24). A Lei convence-nos, por sua impossibilidade de ser cumprida, de que não podemos alcançar a salvação sem a mediação de Cristo. Desse modo, a Lei tem sentido depreciativo para mostrar o estado daqueles que se justificam sob a Lei, quando se torna nossa própria justiça como mérito humano que impossibilita obter a salvação, somente alcançável pelo Evangelho da graça.A graça é superior à Lei. Paulo contrasta a superioridade do Espírito em relação à Lei (Gl 5.18) e afirma que morremos para a Lei (Rm 7.4; Gl 2.19). O escritor aos Hebreus salienta que a Lei tornou-se antiquada e imperfeita (Hb 8.6-7, 13), e João afirma que Cristo trouxe a graça e a verdade (Jo 1.17).
“Que diremos, pois? É a lei pecado? De modo nenhum! Mas eu não conheci o pecado senão pela lei” (Rm 7.7). A Lei somente existe porque foi outorgada por causa do pecado e para apontar o pecado; por isso, a graça de Deus é superior à Lei, pois a graça de Deus é anterior ao pecado e à Lei.

O papel da Lei tinha um propósito material de preservar o homem do pecado e um propósito espiritual de mostrar quão terrível é o pecado (“Pela lei vem o conhecimento do pecado” (Rm 3.20)), e quão grande é a necessidade da graça para obter a salvação, pois é impossível cumprir a Lei (Rm 7.19; Tg 2.10), que é entendida como a vontade de Deus presente em todo o Antigo Testamento. Dessa forma, estamos sob a Lei Moral de Deus, no sentido de que ela continua representando nossos deveres e obrigações para com o Senhor e para com o nosso semelhante e, no sentido de que ela, resumida nos Dez Mandamentos, representa o caminho traçado por Deus no processo de santificação efetivado pelo Espírito Santo (Jo 14.15).

A Lei coloca a todos sob a maldição do pecado. É ela quem avilta e mostra a crueldade do pecado e as consequências da desobediência. A Lei é boa (Rm 7.16; 1 Tm 1.8) porque quer evitar a ruína humana apontando-lhe o caminho certo a seguir, mas é impossível cumpri-la. Deus utiliza-se de sua misericórdia para tolerar o pecado e ofereceu o seu Filho manifestando a sua graça para perdoar e permitir que a humanidade possa, através de Cristo e por seus méritos, satisfazer as exigências da Lei, impossíveis de serem cumpridas.

Como Deus é amor e para não prejudicar a raça humana com a impossibilidade de cumprir a Lei, Ele, desde sempre, teve suas ações regidas por sua bondosa gratuidade, o que chamamos de graça, que Paulo denomina de “o escândalo do evangelho”. Assim, morremos para a Lei com Cristo, embora ela não tenha sido anulada, pois Jesus é tudo em todos (Cl 3.11), inclusive a Lei, pois a cumpriu. Dessa forma, não é mais a Lei de Moisés que tem valor final, mas é o “vocês ouviram o que foi dito [...] mas eu lhes digo [...]” (Mt 5.22,28,32,34,39,44 – NTLH) de Jesus proferido no Sermão do Monte, ou seja, a Lei do amor e da ética do evangelho suplanta a Lei de Moisés.

Na cruz, Jesus foi a manifestação da graça. A cruz foi seu símbolo (1 Co 1.18). O símbolo é a figura com que se representa um conceito; logo, “a graça (entenda-se como graça o ato salvífico, expiatório) seria o conceito, e a cruz, seu símbolo. Isso estabeleceria que graça e cruz são dois elementos distintos, porque uma, a cruz, só representa a outra, a graça; uma é material, a outra
abstrata.”

Não há transgressão, por maior que seja, ou pecador, por pior que seja, que não possa ser alcançado por essa graça, pois, onde abundou o pecado, que foi exposto pela Lei, superabundou a graça (ver Rm 5.20). Foi por compreender a grandeza da graça que o apóstolo João escreveu que, “se alguém pecar, temos um Advogado para com o Pai, Jesus Cristo, o Justo” (1 Jo 2.1).
A graça, no entanto, jamais é ou será um salvo-conduto para a prática do pecado ou para a libertinagem (Gl 5.13); muito pelo contrário, ela convocanos à obediência em gratidão ao doador da graça. Quando se ama, faz-se de tudo para agradar; portanto, “o amor de Cristo nos constrange” (2 Co 5.14) a fazermos coisas por Ele que lhe são agradáveis (1 Ts 4.1) e glorifiquem seu nome, pois o cumprimento da Lei é o amor (Rm 13.10; 1 Jo 2.5). Assim sendo, viver pela graça é uma questão de escolha humana. Foi por isso que Armínio escreveu:
A respeito da graça e do livre-arbítrio, isto é o que ensino, a respeito das Escrituras e do consenso ortodoxo: o livre-arbítrio é incapaz de iniciar ou aperfeiçoar qualquer bem verdadeiro e espiritual, sem graça. Para que eu não possa ser considerado como Pelágio, como usando mentiras com respeito à palavra “graça”, quero dizer, com isto, aquilo que é a graça de Cristo e que diz respeito à regeneração. Portanto, afirmo que esta graça é simples e absolutamente necessária para o esclarecimento da mente, a devida ordenação dos interesses e sentimentos, e a inclinação da vontade para o que é bom. É esta graça que opera na mente, nos sentimentos e na vontade; que infunde na mente bons pensamentos; inspira bons desejos às ações, e faz com que a vontade coloque em ação bons pensamentos e bons desejos. Esta graça vai antes, acompanha e segue; instiga, auxilia, opera o que queremos, e coopera, para que não queiramos em vão. Ela evita tentações, auxilia e concede socorro em meio às tentações, sustenta o homem contra a carne, o mundo e Satanás, e, nesse grande conflito, concede vitória ao ser humano. Ela levanta outra vez os que são vencidos e os que estão caídos, firmando-os e dando a eles nova força, além de fazer com que sejam mais cuidadosos. Esta graça inicia a salvação, promovendoa, aperfeiçoando-a e consumando-a.

Dois extremos podem estar presentes na compreensão da graça: o primeiro é o de que ela possibilita uma liberdade total para pecar à vontade (Rm 6.1-2), pois Cristo perdoa. Entretanto, a desobediência fere a imagem de Deus em nós e no nosso próximo e traz consequências. “Será que posso pecar indiscriminadamente?” Isso tem resposta bíblica quando se afirma que maior castigo sobrevirá sobre os que profanarem o sangue do pacto e ultrajarem o Espírito da graça (Hb 10.29).

O outro extremo é o de achar que é impossível receber um presente tão valioso como a salvação sem que para tal seja necessário dar algo em troca; isso pode levar ao legalismo, ao ascetismo ou ao misticismo, tentando alcançar a salvação por obras, tão combatida por Paulo na epístola aos Gálatas (Gl 5.4,6). Essa atitude pode levar ao orgulho espiritual (Ef 2.8-9) e gerar toda sorte de hipocrisias (Mt 23.23). Dessa forma, criam-se meios de autossalvação inventando-se regras para aliviar a consciência ao invés de confiar na obra completa de Cristo. (Gl 3.1-5).

Assim, nossa única saída é confiar inteiramente em Cristo, que nos perdoa, aceita e ama do jeito que somos. Esse amor, porém, constrange-me a obedecer-lhe. O contrário disso seria a negação da eficácia da obra de Cristo. A religião diz o que devo fazer (obedecer); Jesus diz o que Ele já fez por mim (confiar).

Extraído do Livro "A Obra da Salvação" de Claiton Ivam Pommerening - CPAD
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Autor Moisés Duarte

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