Os santos católicos usados
pelo candomblé
Os
santos gêmeos são muito prestigiados e populares em todo o Brasil. Mas é em
Salvador, Bahia, que a dupla ganha mais notoriedade, sobretudo no mês de
setembro, quando são festejados, em grande estilo, com o famoso caruru. O prato
ganha tanto a mesa dos ricos quanto a dos pobres, e é sempre seguido de muita
fartura e festa. Uma das obrigações de quem prepara o caruru de preceito é
pedir esmolas para conseguir os ingredientes necessários. Uma vez pronto, o
alimento é servido, primeiramente, aos santos e, em seguida, a sete crianças.
Somente depois vira banquete para os demais convidados e para a própria família
que o preparou. O prato, à base de quiabo e dendê, tem origem na África, no
culto da sociedade yorubá aos Ibeji.
Todos
os anos, ao se aproximar o dia 27 de setembro, data em que se comemora o Dia de
Cosme e Damião, é comum encontrar pelas ruas de Salvador crianças e adultos
atrás de esmolas (ingredientes) para a preparação do caruru dos santos. As
pessoas mais abastadas pedem aos amigos uma ajuda simbólica, garantindo, assim,
a tradição.
Embora
a comemoração seja obrigatória no dia 27, os carurus baianos, no entanto,
acontecem durante todo o mês de setembro e prosseguem até outubro, quando são
festejados, no dia 25,
São Crispim e São Crispiniano, que normalmente são confundidos na crendice
popular com Cosme e Damião.
Representadas
por duas crianças gêmeas, essas entidades eram cultuadas com presentes e
oferendas de pratos típicos e doces nos rituais do Candomblé, que se repetem
até os dias atuais. Entretanto, ao se tornarem escravos no Brasil, os africanos
foram proibidos de cultuar
seus santos de origem.
Para burlar a vigilância de seus senhores, passaram a associar suas entidades
aos santos
católicos, o que
chamamos de sincretismo. Para que pudessem festejar seus Ibejis ou Erês (que
significa criança que gosta de oferendas), os escravos adotaram os santos
gêmeos católicos Cosme e Damião. É por esse motivo que Cosme e Damião, até
hoje, são associados a crianças e se oferece caruru, balas e doces no seu dia.
Embora
o culto aos gêmeos tenha-se originado em longínqua data e em vários pontos da
Europa, foi no Brasil, no entanto, especialmente na Bahia, que a fé nos santos
ganhou mais força, juntando-se às devoções das raças branca e negra.
Hoje, é
vasto o número de crianças que, durante várias gerações, tem sido ensinada por
seus pais, professores e parentes a fazer pedidos a Cosme e Damião, com o fim
de obter ajuda em suas necessidades. A Igreja Católica, por sua vez, apregoa
que esses santos são protetores das crianças, dos gêmeos e padroeiros dos médicos.
É costume entre os católicos a distribuição de balas e doces para as crianças
no dia 26 de setembro.
Segundo
o padre Michelino Roberto, "pelo calendário oficial da igreja, a festa é
celebrada no dia 26. Mas o
povo prefere 27, data da
inauguração da basílica que o papa Félix IV mandou erguer para os dois em Roma,
no ano 500".
Será
que há algum mal em permitirmos que as nossas crianças recebam esses doces ou
balas? Ou, talvez, pedirmos proteção para elas a
esses irmãos em Cristo
que viveram séculos atrás? Afinal, eles não
passam de cristãos que
perderam a vida por amor a Cristo. Muitas dúvidas pairam na mente dos pais de
famílias evangélicas ao presenciarem outras crianças na escola ou numa festa em
seu bairro recebendo doces e balas sem maiores preocupações por parte de seus
respectivos responsáveis. E questionam: "O que há de tão errado nisso? Não
passam de crianças se
divertindo".
A
partir de então, analisaremos esses respectivos personagens, a lenda que se criou
em torno de sua personalidade e a influência negativa às nossas crianças caso
elas participem desses festivais comemorativos incentivados pela Igreja
Católica.
Quem foram? Cosme
e Damião eram irmãos gêmeos que, desde cedo, se envolveram com medicina, indo estudar
na Síria. A data de seu
nascimento, no 3 °
século, é incerta. Não se sabe ao certo as circunstâncias que os levaram a ter contato
com o cristianismo. Reza a
lenda que, por onde
andavam, os gêmeos não cobravam pelos serviços
que prestavam como
médicos (daí serem chamados anárgiros, ou seja,
"que não são
comprados por dinheiro"), porque tinham como prioridade a conversão dos
pagãos à fé cristã. Na verdade, eram outras riquezas que os atraíam. Devido ao
fato de não se prostrarem diante de outros deuses, o governo imperial ordenou a
prisão dos dois médicos, acusados de acérrimos inimigos dos deuses pagãos.
Assim, morreram como mártires de Cristo em 303 d. C, aproximadamente. Cerca de
530 d.C., o imperador Justiniano, quando gravemente ferido, mandou construir,
em Constantinopla, uma grande Igreja em honra desses mártires.
Zelo sem
entendimento. Para que tenhamos uma idéia de como a crendice popular em
torno desses dois irmãos vem tomando vulto, atentemos para o que diz o seguinte
artigo: "Salvador, o bairro da liberdade, o mais populoso da capital baiana,
terá um domingo de festa,
amanhã, com a
comemoração do dia dos santos Cosme e Damião. Haverá
missas de uma hora na
igreja que leva o nome dos gêmeos. Às 16 horas,
uma procissão percorrerá
as ruas. Os santos são muitos populares entre os adeptos do candomblé e os
devotos do catolicismo. No candomblé, os
santos correspondem aos
ibejis ou erês, espíritos e crianças, considerados mensageiros dos orixás. Segundo
a tradição, quem nasce neste dia tem a obrigação de oferecer caruru, todos os
anos, a sete meninos".
Fui no jardim colher as
rosas
A vovozinha deu-me a
rosamais formosa
Fui no jardim colher as
rosas
A vovozinha deu-me a
rosa mais formosa
Cosme e Damião, ÔOOOh
Doun
Crispim, Crispiniano São
os filhos
de Ogum Cosme e Damião,
ÔOOOh
Doun Crispim,
Crispiniano
São os filhos de Ogum
(cantigas da umbanda em
que o
catolicismo
se funde com os cultos
afros)
A verdade
sobre Cosme e Damião. É costume no catolicismo transformar centenas de cristãos
sinceros, que se têm revelado ao longo da história da Igreja, em personagens de
devoção religiosa para uma massa de fiéis que possui zelo de Deus mas nenhum conhecimento
de sua palavra. Paulo disse em sua carta aos romanos: "Porque lhes dou testemunho
de que têm zelo de Deus, mas não com entendimento (10.2).
A
consideração a que chegamos é que uma grande parcela dos fiéis,
tanto do candomblé
quanto do catolicismo, busca uma relação sincera com Deus. Mas, devido ao fato
de terem aprendido, seja por amigos, familiares, ou pela doutrina da igreja
católica, que Cosme e Damião podem influenciar a vida deles e a de seus filhos,
recorrem, ao precisarem de ajuda, aos ensinamentos que ouviram. São sinceros no
que fazem, por assim dizer, mas não agem "com entendimento".
O ensinamento
de que o homem deve recorrer aos mortos para receber ajuda é amplamente
divulgado pelo espiritismo e outras seitas por todo o mundo. É costume entre os
católicos afirmarem: "Por que as pessoas que foram tão boas não podem nos ajudar?".
Para esclarecimento dos leitores, e em resposta às seitas, vejamos alguns
motivos por que ninguém deve praticar consultas aos mortos:
1 - É proibida por Deus
(Dt 18. 9-11);
2 - Quem faz isso, não
possui luz nele (Is 8. 19-20);
3 - Os mortos não são
nossos mediadores (1 Tm 2.5).
Outros motivos dizem
respeito ao fato de que não precisamos de seus auxílios. Vejamos porquê:
1 - Temos a confiança de
que podemos nos aproximar diante de Deus e sermos socorridos pelo Senhor (Hb
4.16);
2 - Jesus é o nosso
intercessor (1 Tm 2.5);
3 - Todo aquele que é
nascido de novo pela fé é chamado santo (Rm 1.7; Ef 3.8; 4. 11-12);
4 - Cristo está o tempo
todo intercedendo por nós (Hb 7.25).
Quando
recorremos ao auxílio de algum santo (neste caso, Cosme e
Damião), isso implica
que Cristo é insuficiente, tanto para salvar como para abençoar as nossas
crianças e os profissionais da área da medicina.
A
oração é uma forma de culto. E foi o Senhor Jesus quem disse: "Ao
Senhor teu Deus
adorarás, e só a ele darás culto" (Mt 4.10). Não devemos ser levados por
filosofias vãs (Cl 2.8), antes, prestar o nosso culto racional a Deus (Rm
12.1). Devemos, isso sim, nos desvencilhar dos preceitos de homens (Mc 7.7),
para que não ofereçamos a Deus um culto vão (1 Co 10.19-20). Sabe qual é a má
notícia sobre Cosme e Damião: Eles não podem nos ajudar! Sabe qual é a boa
notícia a respeito de Cristo: Ele "é o caminho, a verdade e a vida"
(Jo 14.6).
Notas:
1- O Estado de São
Paulo, 28-09-2000.
2- Faz-se necessário
ressaltar que tanto o catolicismo romano, quanto o candomblé cultuam Cosme e
Damião.
3- O Estado de São
Paulo, 26-09-1998.
www.jesussite.com.br/acervo.asp?id=758
Publicado em 9/29/2003
Danilo Raphael
Revista Defesa da Fé, nº 39, Ano 5, outubro/2001
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