ESPERANÇA EM MEIO À ADVERSIDADE
Os crentes de Filipos estavam profundamente preocupados com Paulo. Nutriam caloroso afeto por ele; sabiam que estava preso agora, aguardando o julgamento, e que seu caso deveria subir logo perante o supremo tribunal do império. Como estaria Paulo nesse momento? E qual seria a decisão judicial, após o julgamento? E além de tudo, de que maneira essa decisão e os fatos precedentes contribuíram para maior avanço do evangelho por todo o mundo romano? Paulo sabe o que há na mente dos filipenses, e por isso deseja tranqüilizá-los, transmitir-lhes um pouco da confiança que lhe enche o coração enquanto contempla sua própria situação.
1:12. O fato do apóstolo aos gentios estar em cadeias poderia muito bem ser considerado um golpe contra o avanço do evangelho que Paulo fora chamado para pregar. Todavia, não era assim: fosse qual fosse a situação de Paulo, a palavra de Deus não estava presa (cf. 2 Timóteo 2:9). Na verdade, a presença de Paulo em Roma como prisioneiro, aguardando julgamento, havia contribuído para maior avanço do evangelho. Tratava-se de um prisioneiro famoso, um cidadão romano que exercia sua prerrogativa, a de ter seu caso exposto perante o imperador; e Paulo fez questão de fazer que todos quantos entrassem em contato com ele ficassem sabendo que sua prisão domiciliar se devia à pregação do evangelho, e não a alguma atividade política subversiva, nem a conduta criminosa.
1:15 / Nem todos os crentes romanos que estavam pregando o evangelho tão ativamente possuíam o mesmo espírito de comunhão com Paulo. As casas-igrejas da cidade representavam uma grande variedade de perspectivas cristãs. Havia tanto cristãos judeus como gentios. Alguns deles (em ambos os grupos) nutriam simpatias por Paulo e suas práticas; havia os que partilhavam as mesmas suspeitas de outros adversários judeus, noutras cidades; havia outros de tendência gnóstica que consideravam a teologia paulina, o evangelho que ele pregava, como sendo algo curiosamente imaturo no qual faltava luz. E havia outros ainda, sem dúvida, que não tinham certeza quanto a que atitude tomar em relação a Paulo. Entretanto, parece que aqui o apóstolo tem em mente pessoas que pregam o evangelho genuíno, independentemente da motivação por que pregam. Por que alguns haveriam de pregar o evangelho de Cristo por inveja e porfía? Talvez sentissem inveja das realizações de Paulo, que levou o evangelho a tantas províncias, em tão curto tempo, e julgassem que poderiam ultrapassá-lo agora que o apóstolo estava encarcerado. Talvez se considerassem seguidores de algum outro líder, perante quem (a seus próprios olhos) Paulo era mero rival; agora que Paulo já não estava livre para movimentar-se por onde bem entendesse, o líder deles conseguiria maior progresso. Haveria já um partido pró "Cefas" em Roma, como tinha havido alguns antigamente em Corinto (1 Coríntios 1:12)? Todavia, os crentes que pregavam o evangelho de boa mente, alegravam-se ao pensar, enquanto trabalhavam, que partilhavam do ministério de Paulo; o apóstolo lhes elogiou o mesmo espírito de participação com o qual elogiava também aos crentes filipenses.
Paulo contempla a morte ou a absolvição como decisão final de seu processo pendente, com perfeita equanimidade. Sua preferência pessoal seria partir desta vida e estar com Cristo, mas ele sabe que é mais importante, por amor a seus amigos, que seja poupado e permaneça com eles mais um pouco.
O que Paulo precisa é muita coragem a fim de tornar conhecido (o evangelho) com muita coragem (como é traduzida a expressão aplicada à mesma situação em Efésios 6:19, "intrepidez"). Proclamar o evangelho com coragem é a antítese de ficar confuso perante ele (cf. Romanos 1:16). A ambição permanente de Paulo é que em seu corpo — isto é, qualquer coisa que lhe aconteça no plano físico, seja a vida, seja a morte — que seja promovida a glória de Cristo. Se o avanço da causa de Cristo exige que ele seja sentenciado à morte e executado, a morte é bem-vinda! Contudo, se esse avanço da causa de Cristo se fará caso Paulo seja libertado, recebendo mais algum tempo de vida mortal, a vida é bem-vinda!
1:21 Na verdade, não tivesse ele outras considerações a fazer, senão suas próprias escolhas pessoais, a expectativa da morte seria preferível: morrer nada significaria senão lucro, e viver é Cristo. A tradução de ECA: morrer é lucro levanta a pergunta: "que lucro?" A resposta seria: "O lucro é Cristo." A existência de Paulo resumia-se na vida em Cristo, isto é, Cristo vivendo nele (cf. Gálatas 2:20); a morte não conseguiria trazer cessação nem diminuição dessa existência, mas, ao contrário, a exaltaria mediante a experiência de estar com Cristo (v. 23), numa comunhão mais íntima do que a que mantivera em vida física. Se viver significa Cristo, estar vivo deve ser algo maravilhoso, muito alegre; "entretanto, até mesmo para tal vida, precisamente para uma vida assim, morrer é lucro" (F. W. Beare, ad loc.). Se a morte significasse (ainda que temporariamente) ter menos de Cristo do que a pessoa tinha na vida física — acima de tudo, se a morte significasse (mesmo temporariamente) aniquilação — seria absurdo falar de morte como sendo lucro. Sem dúvida, Paulo queria dizer que para o crente em Cristo, morrer representaria lucro, não importando a forma pela qual a morte sobreviesse.
Contudo, a morte que o apóstolo tem em mente, para si mesmo na atual situação, é a execução em conseqüência de julgamento adverso nos tribunais imperiais. Se esse tipo de morte a serviço de Cristo coroasse uma vida investida no ministério cristão, haveria de ser lucro não apenas para Paulo, mas para a causa de Cristo no mundo todo.
FONTE: COMENTÁRIO BÍBLICO DE FILIPENSES - F. F. BRUCE
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