A cidade de Filipos leva o nome de Filipe II, rei da Macedônia, fundada por ele em 356 a.C. Antes, existia nesse lugar um vilarejo traciano conhecido pelo nome grego Krenides ("fontes"), que em 361 a.C. foi tomado por colonos da ilha de Tasos, comandados por um exilado ateniense chamado Calistrato. O maior atrativo desse lugar era o fato de localizar-se nas proximidades das minas de ouro do monte Pangéus, que Filipe fez questão de controlar ao fundar de novo a cidade. Filipos tinha também importância estratégica por constituir a rota terrestre para o Helesponto (Dardanelos) e Bósforo, e portanto, para o interior da Ásia. A cidade foi transformada em colônia em 42 a.C., pelos líderes romanos Antônio e Otaviano, após obterem vitória ali sobre Bruto e Cássio, os assassinos de Júlio César. Os comandantes vitoriosos estabeleceram um batalhão de soldados veteranos em Filipos.
A Chegada do Evangelho
O cristianismo chegou à Macedônia menos de vinte anos após a morte de Cristo. Um dos documentos mais antigos do Novo Testamento — a primeira carta aos Tessalonicenses — foi enviada de Corinto, provavelmente no outono de 50 d.C., dirigida à recém-fundada igreja de Tessalônica.Esta carta foi enviada por Paulo, Silvano e Timóteo, e indica que a igreja de Tessalônica teve seu início quando esses três homens visitaram a cidade, tinha pouco tempo. A visita deles a Tessalônica havia sido precedida por uma visita a Filipos, "havendo, primeiro padecido, e sido ultrajados em Filipos" (1 Tessalonicenses 2:2).
Era costume de Paulo, ao visitar uma cidade gentia, dirigir-se à sinagoga local a fim de encontrar alguns ouvintes dentre os judeus e gentios tementes a Deus que porventura a freqüentassem. Parece que em Filipos não havia uma comunidade judaica suficientemente grande para estabelecer-se uma congregação regular na sinagoga (para isso o quorum seria dez homens). Todavia, havia um local informal de reuniões, fora da cidade, às margens do rio Gangites, onde algumas mulheres se reuniam aos sábados para recitar determinadas orações. Esse grupo feminino era formado provavelmente por mulheres judias e outras, tementes a Deus (povo gentio que aderia à forma judaica de culto sem serem prosélitos convertidos); a líder era Lídia, natural de Tiatira, na Ásia Menor, que negociava com púrpura, tintura fabricada com o sumo da raiz da ruiva-dos-tintureiros, pela qual a cidade já há muito tempo se tornara famosa. (Homero descreveu o modo que "uma mulher macedônica ou cariana tingia o marfim com tintura de púrpura.") Lídia e suas amigas formaram o núcleo da igreja em Filipos.
As mulheres da Macedônia já há muito tempo tinham a fama de exercer iniciativa e influência, e estas nobres tradições foram bem conservadas pelas mulheres das igrejas macedônicas.
Entretanto, os missionários envolveram-se em problemas graves quando Paulo exorcizou o "espírito de adivinhação" de uma jovem que, "adivinhando, dava grande lucro aos seus senhores" (Atos 16:16). Tecnicamente esse espírito é chamado de espírito de pitonisa, ou seja: tratava-se do mesmo espírito, porém de menor poder, que subjugava a profetiza pítica de Delfos de modo que esta falava como porta-voz de Apoio. Como resultado do exorcismo a jovem não mais conseguia predizer o futuro. (Existe um paralelo literário em Theophoroumene [A Mulher Divinamente Inspirada], de Menander, peça em que uma jovem escrava perde seus címbalos e tamborins e, com eles, o dom da profecia deles proveniente.).
Caráter, Ocasião e Propósito da Carta
A carta é enviada à comunidade cristã de Filipos por Paulo, que acrescenta o nome de Timóteo ao seu, logo na saudação inicial.
Após haver saudado seus amigos filipenses e assegurado sua profunda gratidão e suas orações por eles, Paulo lhes relata como sua situação atual, a despeito das restrições da prisão, promoveu a divulgação do evangelho entre os oficiais, sob cuja guarda ele se encontra, tendo encorajado a muitos dos crentes locais a serem mais ousados no testemunho da fé.
Ainda que alguns tenham sido impelidos por motivos inamistosos contra Paulo, permanece o fato que Cristo está sendo proclamado, o que faz Paulo regozijar-se. Ele não sabe em que resultará sua prisão; contudo, ele já entendeu e decidiu que, quer a prisão termine com a libertação, quer com a morte, tudo redundará para a glória de Cristo.
Em seguida, faz um apelo para que haja harmonia entre os membros da igreja filipense: lamenta a existência de ciúmes e antipatias desprezíveis e lhes traz à memória a auto-renúncia de Cristo, ao tornar-se servo dos homens, ao ponto de sofrer a morte na cruz. Depois de mais algumas palavras de encorajamento, nas quais se torna bem evidente o envolvimento pessoal de Paulo no bem-estar espiritual de seus convertidos, o apóstolo lhes diz que logo enviará Timóteo, que os visitará e trará notícias deles. Agora, diz Paulo, ele lhes manda de volta Epafrodito, membro da igreja deles, que viera para desincumbir-se de uma tarefa que lhe fora entregue pelos filipenses, e durante a qual ficara seriamente doente.
Então, com um "Quanto ao mais, irmãos meus..." (3:1), Paulo dá a impressão de que vai finalizar a carta mas, de súbito, alerta seus leitores contra intrusos subversivos. E o apóstolo estabelece (em parte ao rebater a má influência de tais pessoas), referindo-se à sua própria experiência, a essência da fé e da vida cristãs.
Palavras adicionais de admoestação (4:1-9) são seguidas de agradecimentos por uma oferta que Epafrodito lhe trouxe de Filipos (4:10-20). A carta se encerra com uma doxologia final, saudações e bênção.
É evidente que Filipenses foi escrita enquanto Paulo estava na prisão aguardando o julgamento que significaria liberdade, ou talvez a perda da própria vida.
O propósito da carta só pode ser formulado após considerar-se todo seu conteúdo. Epafrodito estava de regresso a Filipos por causa da insistência de Paulo, que aproveitou a oportunidade e lhe entregou uma carta dirigida aos crentes filipenses, agradecendo-lhes a oferta de que Epafrodito havia sido portador, agradecendo-lhes também pela participação geral e constante deles, em seu ministério, e explicando-lhes incidentalmente por que estava enviando Epafrodito de volta tão depressa.
Ao mesmo tempo, Paulo aproveita a oportunidade para dar-lhes informações sobre sua situação atual, a fim de prepará-los para a iminente visita de Timóteo, a qual seria seguida (assim esperava Paulo) de uma visita dele mesmo. O apóstolo os adverte contra uma variedade de elementos que rondavam as igrejas subvertendo a fé e a moral cristãs.
Contudo, o principal objetivo de Paulo era, evidentemente, estimular o espírito de unidade entre os crentes. O que militava contra tal unidade era a tendência natural para a auto-afirmação, que Paulo combatia com toda a disposição de que era capaz. O exemplo de Cristo deveria inspirar seus seguidores no sentido de colocar os interesses dos outros diante de seus próprios interesses, e serem marcados pelo espírito de autonegação e auto-sacrifício espontâneo. Se aprendessem essa lição, não apenas transbordariam o cálice de Paulo com alegria mas também seriam liberados de tensões internas e seriam capazes de, juntos com Paulo, regozijar-se no Senhor.
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