Justificação, somente pela fé em Jesus Cristo

INTRODUÇÃO

 Na lição de hoje, estudaremos a doutrina bíblica da justificação pela fé, conforme a Carta aos Romanos nos capítulos 3.1- 4.25. Esses textos contêm uma das mais contundentes defesas de Paulo em favor da justificação pela fé, independente das obras. Para uma melhor compreensão deste tema tão relevante, a argumentação do apóstolo será dividida em três partes: a justificação manifestada, a justificação contestada e a justificação exemplificada. A chamada de Abraão, o grande patriarca de Israel, será a base da argumentação de Paulo para provar a doutrina da justificação somente pela fé. O argumento de Paulo é que todas as bênçãos de Deus e todas as suas promessas são frutos da sua graça para conosco.

Comentários 

Depois de provar a tese de que todos os seres humanos, de todas as raças, de todas as culturas, de todos os credos e de todos os estratos sociais, tanto gentios como judeus, são culpados diante de Deus; depois de mostrar que os efeitos da queda não trouxeram apenas alguns arranhões, mas lançaram todos os homens, indistintamente, num estado de depravação. Depois de colocar todos os homens sob a maldição e a condenação da lei, o apóstolo abre os portais da graça e aponta o caminho da salvação em Cristo. Paulo mostra nesta carta que a justificação é exclusivamente pela fé em Cristo e não pelas obras da lei. 
  
I. A JUSTIFICAÇÃO MANIFESTADA (Rm 3.21-26)

1. Um culpado que é inocentado. Em Romanos 3.21, lemos: “Mas, agora, se manifestou, sem a lei, a justiça de Deus, tendo o testemunho da Lei e dos Profetas”. Paulo nos mostra como Deus se revelou para alcançar os gentios e judeus. Os gentios estavam debaixo da ira de Deus, porque falharam em conhecê-lo. Os judeus também estavam debaixo da ira divina, por não conseguirem guardar a Palavra do Senhor. O vocábulo manifestou, no grego, vem de uma raiz cujo significado é tornar manifesto ou visível ou conhecido o que estava escondido ou era desconhecido. Deus, na pessoa de Jesus Cristo, tornou conhecido o seu grande amor para com os pecadores. Encontramos Paulo recorrendo a uma figura extraída do mundo jurídico para esclarecer o seu pensamento. O termo justiça traduz a palavra grega dikaiosyne, muito comum no contexto de um tribunal. A imagem é de alguém que é inocentado por um juiz, mesmo sendo culpado pelos seus atos. Concluímos então que, mesmo culpados, Deus quis nos justificar e perdoar.

Comentários 

“De acordo com o evangelho, como o Deus santo pode justificar os pecadores?” Já que a justiça de Deus exige a morte do pecador e o seu amor deseja ofertar-lhe a felicidade eterna, como Deus resolveu esse dilema, salvando os pecadores sem deixar de ser justo? 
John Stott escreve: “A prostituta, o mentiroso e o assassino estão destituídos da glória de Deus; mas você também está. Pode ser que eles estejam no fundo de uma mina e você no cume da montanha; no  entanto, você está tão impossibilitado quanto eles de encostar as mãos nas estrelas”
Deus, porém, em vez de sentenciar o pecador ao castigo eterno, providenciou-lhe um meio de salvação em Cristo. Como nosso substituto, Cristo tomou nosso lugar, sofreu por nós o duro golpe da lei, bebeu sozinho o cálice amargo da ira de Deus e morreu morte vicária em nosso favor. A lei foi cumprida, a justiça foi satisfeita e nós fomos justificados. Essa é a manifestação da justiça divina!
A Bíblia é clara em afirmar que nenhum homem pode ser justificado por aquilo que é. O homem é condenado por aquilo que é e por aquilo que faz, mas é justificado por Deus mediante aquilo que Cristo fez por ele.
A Justificação é o processo pelo qual a culpa do homem é transferida para Jesus, que já a pagou através de Seu sacrifício expiatório da cruz, e pode cobrir o homem com sua justiça.
A justificação não possui graus; ela é plena, cabal e absoluta para todos os que creem. Não existe um indivíduo mais justificado que outro. O menor crente é tão justificado quanto o maior santo.
A Justificação é um ato judicial de Deus no qual ele declara, sobre a base da justiça de Jesus Cristo, que todas as ordens da lei estão satisfeitas com respeito ao pecador.
Obs: O homem é justificado no início da fé e não no fim. Pois, se assim fosse não seria pela fé e sim pelas obras.

A natureza da justificação. A justificação é um ato divino, e não uma obra humana. Acontece no céu, e não na terra. É um ato, e não um processo. A justificação não é novidade, mas doutrina profundamente arraigada no Antigo Testamento. Não é contrária a lei, mas testemunhada pela lei (3.21). Provém da graça, e não do mérito (3.24). E recebida pela fé, e não por meio das obras (3.28).

Justificação é um termo legal ou jurídico, extraído da linguagem forense. 
A justificação é um ato legal, e não um processo existencial.  A justificação não é um processo, mas um ato declaratório de Deus. A justificação é um ato legal, forense e judicial que acontece no tribunal de Deus, e não em nosso coração. 
O contrário de justificação é condenação. Os dois são pronunciamentos de um juiz. Dentro do contexto cristão eles são os veredictos escatológicos alternativos que Deus, como juiz, poderá anunciar no dia do juízo. Portanto, quando Deus justifica os pecadores hoje, está antecipando o seu próprio julgamento final, trazendo até o presente o que de fato faz parte dos “últimos dias”.

A justificação não é mero perdão, mas remoção de toda culpa e condenação. A justificação não é apenas o cancelamento da dívida, ou seja, ela vai além do mero perdão. Perdoar é absolver alguém de uma penalidade ou dívida; tem uma conotação negativa. Justificar é reputar e declarar que alguém é justo; tem uma conotação positiva. O perdão é a absolvição do castigo; a justificação é a declaração de que não existe nenhuma base para a aplicação do castigo. A voz do perdão diz: pode ir, você está livre da pena que o seu pecado merece; a voz da justificação diz: pode vir, pois você é bem-vindo para desfrutar todo o meu amor e a minha presença.

A justificação é maior que o perdão. Deus, sem mérito algum nosso, de pura graça, nos confere e imputa a perfeita satisfação, justiça e santidade de Cristo, como se nunca tivéssemos cometido pecado algum e houvéssemos rendido toda a obediência que Cristo rendeu por nós.

A justificação envolve o perdão de todos os pecados presentes, passados e futuros.
Quando um soberano perdoa um criminoso, isto não é um ato de justiça, pois não está fundamentado no cumprimento e na satisfação da lei. A justificação, porém, está sobre o fundamento de uma expiação. 

Na justificação a penalidade da lei não é suspensa, mas executada. Sendo justo, Deus não poderia apenas perdoar o pecador sem vindicar sua justiça. 

Deus não fez vistas grossas ao pecado; ao contrário, puniu o pecado em Cristo. Assim, somos isentos da lei não por ab-rogação, mas por execução.

2. Um prisioneiro que é libertado. Em Romanos 3.24, Paulo usa o verbo grego apolytroseo para se referir à redenção efetuada por Jesus Cristo. Essa palavra, conforme definem os léxicos da língua grega, tem o sentido de redenção, resgate ou libertação. No contexto neotestamentário tem o sentido de libertar mediante o preço de um resgate. No mundo antigo um escravo podia ser resgatado mediante o pagamento de um preço. É exatamente isso que Deus fez. Enviou Jesus Cristo para resgatar o homem que estava preso em seus delitos e pecados (Ef 2.1,2). Tanto judeus como gentios deveriam se conscientizar dessa realidade. Ninguém pode se autolibertar.

Comentários 

Paulo usa a linguagem do mercado de escravos, a redenção (3.24). A palavra grega apolytroseo, “redenção”, é um termo comercial emprestado dos mercados, da mesma forma que “justificação” é um termo legal emprestado dos tribunais. Segundo E F. Bruce, redenção (,apolytrosis) é o ato de comprar um escravo cativo a fim de libertá-lo. A libertação de Israel, tanto da escravidão do Egito como do cativeiro babilônico, é uma ilustração vivida dessa redenção que temos em Cristo. Nessa mesma linha de pensamento, John Murray diz que a linguagem da redenção é a linguagem de aquisição e mais especialmente de resgate. E resgate é aquisição de um livramento mediante o pagamento de um valor. Assim, a obra que Cristo veio realizar no mundo é uma obra de resgate, e a doação de sua vida foi o preço do resgate. 
A cruz foi a maior missão de resgate do mundo. Cristo nos resgatou da casa do valente, do império das trevas e da potestade de Satanás (Cl.1,13). Ele arrebentou o nosso cativeiro. Tirou-nos da escravidão com mão forte e poderosa. Éramos escravos da carne, do mundo e do diabo, e ele nos tornou livres. Estávamos mortos em nossos delitos e pecados, e ele nos deu vida. Estávamos perdidos e fomos achados. Cristo verdadeiramente nos tornou livres. 
É importante afirmar que o preço desse resgate não foi pago a Satanás, como equivocadamente ensinam alguns estudiosos. Esse preço foi pago a Deus. Deus providenciou o sacrifício e recebeu a oferta. Pelo sangue de Cristo, Deus propiciou a si mesmo. A cruz foi a justificação de Deus.
A cruz é a grande trombeta de Deus anunciando ao mundo que Deus odeia o pecado, mas ama incompreensivelmente o pecador. Na cruz a justiça e o amor de Deus se beijaram. Na cruz Deus redimiu o seu povo, aplacou a sua ira e demonstrou publicamente a sua justiça.
A cruz foi o palco da manifestação tanto da ira de Deus contra o pecado como do seu amor imensurável pelo pecador.

3. Um inocente que é culpado. Se o sistema judicial foi útil para elucidar o pensamento do apóstolo, da mesma forma a figura extraída do sistema de sacrifícios levítico também o auxiliou. Isso pode ser visto no texto: “Ao qual Deus propôs para propiciação pela fé no seu sangue, para demonstrar a sua justiça pela remissão dos pecados dantes cometidos, sob a paciência de Deus” (Rm 3.25). A palavra propiciação (gr. hülasterion), que está relacionada ao termo propiciatório é uma terminologia muito utilizada no Antigo Testamento para se referir aos sacrifícios pelo pecado. No sistema levítico, quando alguém pecava tornava-se culpado de algo, e um animal inocente era sacrificado para que a culpa fosse expiada. Paulo mostra que tanto os gentios como os judeus não podem chegar a Deus pelos seus esforços ou obras, mas única e exclusivamente pelo sangue de Jesus: o inocente Cordeiro de Deus que foi sacrificado por nós.

Comentários 

Paulo usa a linguagem do templo — a propiciação (3.25). O substantivo hilasterion significa literalmente “o assento da misericórdia” ou propiciatório, a tampa dourada da arca da aliança, que ficava atrás do véu no santo dos santos. Na Septuaginta, o objeto do verbo hilasterion não é Deus, mas o pecado. Portanto, o seu significado não seria desviar a ira de Deus, mas sim “expiar” o pecado. No entanto, a palavra grega hilasterion, “propiciação”, significa também, e sobretudo, o ato de aplacar a ira divina ou de tornar Deus propício. John Murray tem razão quando diz que propiciação pressupõe a ira e o desprazer de Deus, e o propósito da propiciação é a remoção desse desprazer. Em termos simples, a doutrina da propiciação significa que Cristo propiciou a ira de Deus.

II. A JUSTIFICAÇÃO CONTESTADA (Rm 3.27-31)

 1. A justificação se opõe à salvação meritória. Paulo desejava que o seu ensino não fosse mal interpretado, então recorrendo ao método da diatribe, se adiantando em responder as contestações que seus interlocutores poderiam fazer-lhe. “Onde está, logo, a jactância? É excluída. Por qual lei? Das obras? Não! Mas pela lei da fé” (Rm 3.27). A lei dizia faça e o judeu devoto estava convicto de que Deus o justificaria pelo que fazia. No entanto, a graça que Paulo ensinava dizia não faça, mas aceite o que Jesus já fez. O que seria feito então do orgulho judaico que se vangloriava em ser o povo eleito de Deus e das boas obras que praticavam? Não levaria Deus isso em conta nessa nova doutrina de Paulo? Nas palavras do apóstolo, não! É bem fácil imaginar que para um judeu devoto, guardador da lei e praticante de boas obras, que o ensino da justificação “pela fé somente” era bem difícil de digerir. Não é fácil abrirmos mão do nosso orgulho e deixarmos de nos vangloriarmos pelos nossos feitos. Todavia, a doutrina da justificação pela fé diz que não há mérito humano quando a graça de Deus se manifesta. A conclusão de Paulo é que “o homem é justificado pela fé, sem as obras da lei” (Rm 3.28).

Comentários

Rm:3.27 Onde está, então, o motivo de vanglória? É excluído. Baseado em que princípio? No da obediência à Lei? Não, mas no princípio da fé.
Os judeus se vangloriavam na lei e na circuncisão. Julgavam-se melhores que os outros homens. Aplaudiam a si mesmos e presunçosamente se orgulhavam de sua justiça pessoal. No entanto, uma vez que a justificação é obra de Deus, e não do homem; e uma vez que ela é recebida pela fé, e não pelo mérito das obras, cessa qualquer possibilidade de vangloria pessoal. Não existe provisão para o orgulho na salvação pela graça. Não há nenhum crédito ou mérito em nos lançarmos à misericórdia de Deus em Cristo.
Geoffrey Wilson tem razão quando diz que os judeus não possuem nenhuma superioridade sobre os gentios. A salvação nem é garantida pela circuncisão nem é impossibilitada pela incircuncisão, porque qualquer um que Deus justifica é justificado pela fé.

2. A justificação se opõe ao orgulho nacionalista. A segunda indagação que Paulo procura responder é a seguinte: “É, porventura, Deus somente dos judeus? E não o é também dos gentios? Também dos gentios, certamente” (Rm 3.29). Esse é outro ponto que contrastava com a crença do judaísmo do primeiro século — o exclusivismo. A doutrina da justificação pela fé revela que Deus não é somente dos judeus, que se achavam privilegiados pelo legalismo em relação à Torá, mas dos gentios também. Deus não é uma divindade nacionalista, mas Ele é o Deus de toda a Terra. Não há dúvidas de que Paulo tinha em mente o shema judaico quando argumentou sobre esse assunto: “Ouve, Israel, o SENHOR, nosso Deus, é o único SENHOR” (Dt 6.4). Se Deus é o único Deus, como de fato afirma o monoteísmo judaico, então Ele é o Deus dos gentios também. Não podemos cair no erro de achar que Deus é nossa propriedade exclusiva.

Comentários 

Rm:3.29,30  Deus é Deus apenas dos judeus? Ele não é também o Deus dos gentios? Sim, dos gentios também, 30  visto que existe um só Deus, que pela fé justificará os circuncisos e os incircuncisos.  
Os judeus tinham consciência da sua relação especial com Deus (3.2; 9.4,5). O que os judeus haviam esquecido é que seus privilégios não visavam a exclusão dos gentios. A doutrina da justificação pela fé exclui não apenas qualquer possibilidade de vangloria, mas também qualquer forma de elitismo e discriminação.

3. A justificação se opõe ao antinomismo. “Anulamos, pois, a lei pela fé? De maneira nenhuma! Antes estabelecemos a lei” (Rm 3.31). Essa é última pergunta a ser respondida por Paulo dentro dessa seção. Os judeus legalistas defendiam a observância dos preceitos da lei e acusavam Paulo de ser antinomista, isto é, ensinar que a lei não tem mais nenhum sentido. Paulo estaria ensinando que a justificação pela fé tornara a lei desprezível? A resposta de Paulo é não! O problema não era com a Lei, que tinha a função de servir de condutora até Cristo, mas com os homens que se mostraram incapazes de cumpri-la. Nem judeu nem tampouco gentio algum foi capaz de cumprir a Lei. Somente Jesus Cristo a cumpriu em nosso lugar. Qualquer tentativa de cumprir a Lei hoje é nula, além de ser uma afronta àquEle que se mostrou o único habilitado a fazê-lo — Jesus Cristo, nosso Senhor.

Comentários

Rm:3,31 Anulamos então a Lei pela fé? De maneira nenhuma! Ao contrário, confirmamos a Lei.
A lei e a fé não são antagônicas. Não estão em oposição uma à outra. A fé não anula a lei, nem a lei dispensa a fé. A lei cumpriu o seu propósito preparando o caminho para a fé. A função da lei é expor e condenar o pecado e trancar o pecador no calabouço da culpa até que Cristo venha libertá-lo através da fé. Assim, a fé justifica aqueles a quem a lei condena. Pela fé nós alcançamos uma justiça perfeita, a justiça de Cristo a nós imputada (2Co 5.21).
John Stott expõe as três implicações da doutrina da justificação pela fé. 
Primeiro, ela humilha os pecadores e exclui a vangloria. 
Segundo, ela une os crentes e exclui a discriminação. 
Terceiro, ela confirma a lei e exclui o antinomismo. Nada de vangloria, nada de discriminação, nada de antinomismo.
A justificação foi consumada para confirmar a lei (Rm:3.27-31). A doutrina da justificação pela fé não é contrária à lei, mas à consumação da lei. A lei não nos justifica. Sua função é nos tomar pela mão e nos levar a Cristo, o Redentor.

III. A JUSTIFICAÇÃO EXEMPLIFICADA (Rm 4.1-25)

 Comentários

O apóstolo Paulo trabalhou na elaboração de duas teses até agora. A primeira é que todos os homens são pecadores culpados diante de Deus (1.18—3.20), e a segunda é que a justificação é obra exclusiva de Deus, por meio da morte expiatória de Cristo, recebida exclusivamente pela fé (3.21-31).
A grande questão a que Paulo precisa responder agora é se essa mensagem evangélica tinha sustentação no ensino do Antigo Testamento. Os rabinos ensinavam que Abraão, o pai da nação judaica, havia alcançado a salvação por sua obediência à lei, mesmo antes de ela ter sido dada. Supunham que nada de maligno tinha poder sobre ele.
Acreditavam que Abraão viveu como “o mais íntegro entre os íntegros”, na obediência perfeita. Como recompensa, Deus o escolheu e [o justificou].
Paulo desfaz esse falacioso argumento, provando que a salvação é pela graça, e não pelo mérito, desde a antiga dispensação. Para deixar seu argumento irresistivelmente claro, o veterano apóstolo busca um exemplo de justificação pela fé no Antigo Testamento a fim de provar que a salvação sempre foi alcançada do mesmo modo.
O apóstolo evoca a figura de Abraão, o mais ilustre dos patriarcas, como exemplo daqueles que haviam sido justificados pela fé, e não pelas obras.
O propósito de Paulo em Romanos 4 é ampliar ainda mais a gloriosa doutrina da justificação pela fé, provando insofismavelmente que ela não é nenhuma novidade; ao contrário, é uma doutrina profundamente arraigada no Antigo Testamento.
Alguns estudiosos contemporâneos argumentam que Tiago contradiz Paulo e referenda a justificação pelas obras, e não pela fé (Tg 2.21-26). Na verdade não há contradição entre Tiago e Paulo. Paulo olha para a causa da salvação e diz que somos salvos pela fé independentemente das obras; Tiago olha para o resultado da salvação e diz que os salvos provam a sua fé pelas obras. A autenticidade da fé justificadora encontra-se nas boas obras, que são fruto dessa fé. O crente mostra a fé pelas obras (Tg 2.18), já que a fé sem obras é morta (Tg 2.17,26).

1. Abraão, circuncisão e justificação (Rm 4.1-8). Na seção de Romanos 4.1-8, o apóstolo Paulo toma o exemplo do patriarca Abraão para fazer um contraste entre a justificação pela fé e pelas obras. A antiga tradição judaica afirmava que Abraão já guardava a Torá, mesmo tendo vivido séculos antes dela. Ele a teria guardado por “antecipação”, pois segundo o judaísmo, apoiando-se em Gênesis 17.23, Abraão é circuncidado como sinal da aliança entre ele e Deus. Da mesma forma o sacrifício de Isaque confirmaria tal crença (Gn 22). Em outras palavras, as obras justificaram Abraão. Contra essa argumentação, Paulo mostra que Abraão não poderia ter sido aceito por Deus em virtude da circuncisão, pois ele creu em Deus, tendo sido isso imputado como justiça, antes dele ser circuncidado e pelo menos quatro séculos antes do advento da Lei. O que justificou Abraão não foi o que ele fez, mas o que Deus fez por ele. Esse é o princípio do Evangelho — somos aceitos não pelo que fizemos, mas pelo que Cristo fez por nós.

Comentários

A circuncisão não é causa, mas consequência da justificação . Os rabinos argumentavam que Abraão primeiro foi circuncidado para depois alcançar a justiça, mas Paulo prova pelas Escrituras que Abraão foi justificado antes de ser circuncidado (Gn 15.6; 17.9-11). Consequentemente, a justificação não está baseada na circuncisão. A circuncisão não foi a causa da sua justificação, mas sua consequência. Abraão não foi circuncidado para ser salvo, mas porque era salvo. Do mesmo modo, uma pessoa não é salva pelo batismo nem pela participação na Ceia do Senhor. Somos batizados e participamos da Ceia do Senhor não para sermos salvos, mas porque fomos salvos. Os sacramentos não são a causa da salvação, mas sua consequência. São apenas símbolos da salvação; não podem produzir a salvação. 
Se Abraão foi justificado estando ainda incircunciso, logo a justificação não depende da circuncisão. Assim, os gentios incircuncisos podem ser justificados tanto quanto os judeus circuncisos. Abraão é o pai de todos os crentes, independentemente de serem ou não circuncidados.
A circuncisão não é de todo irrelevante. Embora não seja a base da justificação, é seu sinal e selo,a confirmação de uma justiça já outorgada. A circuncisão não era apenas um sinal para identificar o povo de Deus, mas também um selo para autenticá-lo como povo justificado de Deus.

2. Abraão, promessa e justificação (Rm 4.9-17). Na Aliança Abraâmica, Deus prometeu fazer dos descendentes de Abraão uma grande nação. Ele também prometeu ao patriarca que lhe daria como herança a terra e faria do seu servo uma bênção para todos os povos (Gn 12.1-3). Fazendo referência a essa promessa divina, Paulo argumenta que a justificação não poderia decorrer da obediência à lei pelo fato de que quando Deus fez a promessa a Abraão, este nem mesmo era circuncidado (Rm 4.10-15). A própria crença judaica dizia que a fé obediente de Abraão nas promessas de Deus lhe foi imputada como justiça (Gn 15.5,6). Para Paulo, se as bênçãos divinas prometidas a Abraão dependessem da obediência ao código mosaico, então as promessas de Deus teriam falhado, visto que ninguém fora capaz de cumprir ou guardar a lei.

Comentários

Paulo usa três argumentos para provar que Abraão não foi justificado pela lei e, sim, pela fé. Consideraremos agora esses argumentos.
Em primeiro lugar, o argumento da História (4.13). Abraão não poderia ter sido justificado pela lei, porque esta só foi dada 430 anos depois do patriarca (G1 3.17). Logo, Abraão não poderia ter sido justificado por uma lei que não conhecia nem havia sido dada ao povo ainda.
Em segundo lugar, o argumento da linguagem (4.13-16). Paulo usa neste parágrafo várias expressões como “lei”, promessa , ira , transgressão e graça . A lei e a promessa não podem funcionar simultaneamente. Se a herança depende da lei, já não depende da promessa de Deus (G1 3.18). Lei e promessa pertencem a categorias diferentes; são incompatíveis. A lei exige obediência; a promessa requer fé (G1 3.12). O que Deus disse a Abraão não foi: “Obedeça a esta lei e eu o abençoarei”, mas “Eu o abençoarei; creia em minha promessa”. A lei e a promessa não podem andar de mãos dadas, porque a lei suscita a ira (4.15).
Em terceiro lugar, o argumento da teologia (4.16,17a). Além dos argumentos provenientes da História e da linguagem, Paulo desenvolve agora um argumento tirado da teologia. A salvação não se destina apenas aos judeus da circuncisão, mas também aos gentios da incircuncisão.
Abraão não é apenas o pai dos judeus circuncisos, mas também dos crentes gentios incircuncisos.
Somente o evangelho da graça e da fé pode unir, abrindo a porta para os gentios e igualando todo mundo aos pés da cruz de Cristo (3.29)”.

3. Abraão, ressurreição e justificação (Rm 4.18-25). Na teologia de Paulo em Romanos 4.18-25 há um paralelismo entre a fé de Abraão e a fé do cristão — ambos creram em um Deus que torna possível as coisas impossíveis. Paulo mostra que Deus tornou possível a concretização das promessas a Abraão, mesmo sendo seu corpo já “amortecido” pelo fato de sua idade avançada, e dessa forma recompensou a sua fé. A sua fé, mesmo contra as evidências externas, garantiu-lhe a concretização das promessas (Rm 4.16-22). Da mesma forma, a fé do cristão na morte e ressureição de Jesus, o Filho de Deus, é a garantia de que as promessas de Deus em sua vida também serão cumpridas (Rm 4.23,25).

CONCLUSÃO

Chegamos ao final de uma importante lição sobre a doutrina da justificação pela fé. Nesta lição aprendemos que Paulo recorreu a experiência do patriarca Abraão para argumentar contra a crença judaica que associava a aceitação das obras como garantia de justificação diante de Deus. Para Paulo isso não poderia ser verdade já que o velho patriarca não possuía mérito algum quando recebeu as promessas de Deus. As bênçãos recebidas por ele, assim como as da Nova Aliança, decorrem exclusivamente da graça de Deus em resposta a fé.

Comentários

Sete pontos a respeito da justificação:
A justificação é sem lei (3.21). A justificação se dá quando o homem crê. A lei dava testemunho dessa justificação do evangelho, apesar de ela própria não ter poder para justificar.
A justificação é mediante a f é em Cristo (3.22a). O valor da fé consiste no valor do seu objeto. A justiça do evangelho é uma dádiva concedida por meio da fé. 
A justificação é para todos, gentios e judeus (3.22b, 23). A lei foi dada aos judeus, e não aos gentios, mas a salvação é concedida tanto a judeus como a gentios, uma vez que todos pecaram.
A justificação é pela graça (3.24). Em sua misericórdia, Deus não nos dá o que merecemos e, em sua graça, ele nos dá o que não merecemos. Não há mérito em nós; há toda graça em Deus.
A justificação nos foi dada a um alto preço (3.24b, 25). A salvação é gratuita, mas não barata. Para Deus, ela custou muito caro, o sangue do seu Filho.
A justificação foi feita em perfeita justiça (3.25a, 26). Tendo em vista que Deus satisfez sua justiça e a sua lei foi plenamente cumprida, Deus pôde justificar o pecador sem deixar de ser justo.
A justificação foi consumada para confirmar a lei (3.2731). A doutrina da justificação pela fé não é contrária à lei, mas à consumação da lei. A lei não nos justifica. Sua função é nos tomar pela mão e nos levar a Cristo, o Redentor.




ELABORADO PELO PB. LAELSON DA IGREJA ASSEMBLEIA DE DEUS EM SERRARIA, MACEIÓ, AL.

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Autor MOISÉS DUARTE

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